1986. Fernando Brandt sorri.
Milton Nascimento dedilhava no violão:
“É Fernando, a gente errou…”
Já não havia Pelés, nem Garrinchas, nem Romários.
O Brasil era um país feio e triste durante a semana.
Restava apenas uma alegria para o povo brasileiro:
Alguns domingos. Domingos que já não eram domingos de futebol.
O Brasil era o país da Fórmula 1.
No coração desse país. Ao longo das avenidas.
Escutava-se apenas o ronco dos motores.
A vida ficava lá fora.
A corrupção. A Nova República. As utopias irrealizáveis. A inflação.
Maradona era o novo Pelé. Talvez.
Mas Senna era melhor que Fangio.
E na opinião do povo brasileiro, Senna era melhor que Pelé.
O Brasil havia perdido na decisão por pênaltis para a França.
Brasil vazio na tarde de domingo.
Brasil que assiste Ayrton Senna vencendo o GP de Detroit.
De repente, a Lotus estaciona.
O piloto brasileiro pede alguma coisa à torcida.
O que será?
Surge pequenina. Gentil. Uma improvável bandeirinha brasileira.
Frágil ante o sonho impávido, colosso.
O herdeiro de Landi, Fittipaldi e Piquet lembra daquela terra esquecida.
Abandonada. Estorquida. A pátria amada.
E durante os anos, Collors, Sarneys, Zélias e Caniggias tinham um remédio.
O moço de olhar distante que simbolizava o drible da nação ajoelhada em berço esplêndido.
Diversão era ver o Prost virar João.
Há 15 anos, a nação ajoelhada viu seu filho amado partindo.
Então o destino nos levava até mesmo o nosso menino?
Não haveria mais bandeiras quadriculadas?
Não haveria mais podiuns?
Só haveria o último lugar no grid da história?
Milton cantarola para Brandt:
“Quero falar de uma coisa, adivinha onde ela anda…”
O Brasil pára para dizer adeus.
Um adeus silencioso como um imenso Maracanã, vazio.
Sem gols. Sem ronco de motores.
Apenas a cruel sensação de morte. Do nunca.
Perdemos algo bem maior que um título mundial.
Um bem mais precioso que uma taça.
Ou quem sabe, não perdemos nada?
Pois nunca se perde o que vai no lado esquerdo do peito.
Entrementes.
A trágica morte de Ayrton Senna mostrou a solução do dilema.
O Brasil continuava sendo o país do futebol.
O Brasil vazio nas manhãs de domingo.
Não era vazio por causa do ronco dos motores.
Ninguém dá a mínima para um pit stop.
Na verdade.
Aqui era o país de Ayrton Senna.
Fonte: ROBERTO VIEIRA
sexta-feira, 1 de maio de 2009
15 Anos sem Ayrton.
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1 Comentou. Comente você também.:
Nunca mais eu acordei cedo para ver a fórmula 1, nunca mais torci para o domingo amanhecer com chuva, pois só dava o Senna com chuva! Nunca mais aquela musiquinha( tã tãn tãn..) fez sentido. Que pena! O Brasil aguarda esperançoso o seu novo ídolo!
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